Baseado no texto de Daniel Leichsenring (@danleich)
A ideia de “ataque especulativo” é um mito conveniente, usado apenas como narrativa. Países com fundamentos sólidos não sofrem ataques especulativos. Quando isso ocorre, é porque há fragilidades estruturais, como uma crise fiscal significativa. No caso do Brasil, a deterioração fiscal é evidente, e as medidas adotadas frequentemente agravam essa fragilidade ou aumentam o custo do ajuste necessário.
Uma base fiscal enfraquecida leva inevitavelmente à perda de valor da moeda, o que é, na essência, inflação. Muitas vezes, confundimos inflação com índices como o IPCA, que são apenas maneiras de medi-la. Na realidade, inflação é simplesmente a perda de poder de compra da moeda. Essa desvalorização pode ser percebida em diferentes métricas: no preço da picanha, no valor do aluguel ou na cotação do dólar.
A perda de valor da moeda não é uniforme. Ela se manifesta mais rapidamente em alguns setores e mais lentamente em outros. Enquanto não houver confiança de que a situação fiscal está sob controle, essa desvalorização continuará. Além disso, discursos que negam a existência do problema ou demonstram arrogância não apenas são ineficazes, mas aceleram a desvalorização ao minar ainda mais a credibilidade.
Historicamente, nenhuma economia se desenvolveu com as contas públicas em desordem. Todas as nações que experimentaram desorganização fiscal enfrentaram, sem exceção, crises, recessões e retrocessos. A Argentina é um exemplo notável, cuja história econômica recente oferece lições valiosas sobre os perigos da negligência fiscal.
O Brasil inevitavelmente terá que enfrentar um ajuste fiscal. A dor desse processo será maior ou menor dependendo de quanto mais a situação se deteriorar e do tempo que levarmos para enfrentar o problema. Dívidas acumuladas hoje são, na prática, impostos sobre o futuro — um futuro que o Brasil, repetidamente, sacrifica em nome de um presente ilusoriamente glorioso.