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Os vencedores e os perdedores da Janela Partidária

Intensificando disputa entre PT e PL, a janela partidária apresentou significativas mudanças e reestruturações do cenário político.

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Danylo Shimano, analista de relações governamentais do Ranking dos Políticos

A janela partidária é um dos principais palcos eleitorais de 2024, ano de eleições municipais. Ela ocorreu entre 7 de março e 5 de abril e permitiu que vereadores e outros detentores de mandatos proporcionais troquem de partido sem perder o cargo, exatamente seis meses antes do pleito marcado para 6 de outubro. É o período de muita articulação partidária nos bastidores. Ao analisar o que houve nas capitais, temos um bom termômetro da dinâmica política dos partidos vencedores e perdedores.

Dentro desse cenário, é comum deputados estaduais e federais concentrarem-se em seus estados de origem, buscando consolidar suas bases eleitorais. Não à toa, à época, Arthur Lira (PP/AL), presidente da Câmara dos Deputados, concedeu

“férias” de 11 dias aos parlamentares, permitindo que se dedicassem às negociações locais.

Boa parte dessa dinâmica foi influenciada pela crescente polarização entre o PT, liderado pelo presidente Lula, e o PL, sob a égide de Jair Bolsonaro. Ao final dela, temos o seguinte balanço:

PT e PL fortaleceram suas bases em diversas localidades do país, atraindo lideranças locais em municípios estratégicos e preparando-se para enfrentar-se em pelo menos 12 capitais brasileiras em 2024. Em março, cerca de vinte pré-candidatos a prefeito nas capitais mudaram de partido.

A expectativa é de um confronto acirrado entre PT e PL em cidades-chave como Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Manaus, Goiânia, Cuiabá, Campo Grande, João Pessoa, Maceió, Aracaju, Florianópolis e Vitória. O PL, com a meta audaciosa de eleger mais de mil prefeitos em todo o país, já lançou pré-candidatos em 19 das 26 capitais. O PT, por sua vez, utilizando a força do governo federal, atraiu nomes estratégicos em algumas capitais.

O PSDB, enfrentando a mais profunda crise de sua história, perdeu todos os seus 8 vereadores e ficou sem representação no Legislativo municipal de São Paulo. O partido também perdeu vereadores em outras 11 capitais, incluindo Belo Horizonte e Rio de Janeiro, dois dos maiores redutos eleitorais do Brasil.

O PSDB ficou sem representação nas Câmaras Municipais de São Luís (MA), Recife (PE), João Pessoa (PB) e Florianópolis (SC). Em cidades como Curitiba (PR), Boa Vista (RR), Aracaju (SE), Maceió (AL) e Vitória (ES), onde já não havia vereadores eleitos no pleito anterior, a situação permaneceu inalterada. Apesar desse cenário desafiador, o partido conseguiu adesões importantes em Cuiabá (MT) e Campo Grande (MS), com a chegada de 4 e 5 novos vereadores, respectivamente. O PSDB ainda detém o governo do Mato Grosso do Sul, sob a gestão de Eduardo Riedel.

O MDB e o PSD destacaram-se como grandes vencedores deste período. Nas últimas semanas, o MDB recebeu quatro pré-candidatos às prefeituras de capitais: Gabriel Azevedo (Belo Horizonte), Igor Normando (Belém), Euma Tourinho (Porto Velho) e Dr. Furlan, prefeito de Macapá (AP), que buscará a reeleição. O partido saiu da janela com pelo menos 13 pré-candidaturas em capitais brasileiras. Em São Paulo, sua bancada na Câmara Municipal cresceu de 6 para 11 vereadores, superando as expectativas iniciais e atraindo ex-membros do PSDB.

O MDB experimentou o maior crescimento em números absolutos nos Legislativos das capitais, aumentando sua representação de 54 para 87 vereadores e ampliando sua presença para 21 das principais cidades estaduais. Especificamente em São Paulo, a bancada do partido cresceu de 6 para 11 vereadores, em parte devido à migração de membros do PSDB, que agora negocia apoiar a candidatura da deputada federal Tabata Amaral (PSB) à prefeitura, com José Luiz Datena, ex-membro do PSDB, cotado tanto para ser líder de uma chapa quanto para ser seu vice.

Já o PSD também registrou crescimento notável, alcançando 75 vereadores nas Câmaras Municipais das 26 capitais estaduais, com Gilberto Kassab como seu presidente nacional.

O PL expandiu sua presença em várias regiões do país e atraiu vereadores de partidos de esquerda, como PSB e PDT, totalizando 62 vereadores nas capitais estaduais. O PT também viu seu número de vereadores crescer, passando de 49 para 60, atraindo representantes de várias legendas, incluindo Psol, PDT, PCdoB, PSD, MDB e PSDB. Por outro lado, partidos como Podemos, Cidadania, Solidariedade e PDT enfrentaram perdas significativas, assim como legendas menores que não alcançaram a cláusula de barreira.

Por fim, legendas associadas ao centrão, como PP e União Brasil, mantiveram suas bancadas sem ganhos expressivos nas capitais.

Os dados refletem uma tendência de migração de vereadores para partidos mais consolidados, especialmente aqueles com acesso privilegiado a recursos do fundo eleitoral e com presença sólida nos municípios. Além disso, as decisões de mudança são influenciadas pela dinâmica local, com vereadores buscando abrigo em legendas alinhadas ao prefeito ou em partidos de oposição com candidaturas competitivas.

As atenções da maioria dos brasileiros costuma se atentar para as eleições presidenciais, mas a disputa de 2024 é um palco importante para 2026. Afinal, um princípio fundamental na Ciência Política é de que como a expressão “toda a política é local”.

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