Texto de Bruno Chatack Marins
Sob um aspecto macro, o futebol brasileiro possui suas principais rivalidades marcadas por confrontos regionais, sejam eles municipais ou estaduais. É justamente nesse contexto que se inserem Inter x Grêmio, Atlético-MG x Cruzeiro, Palmeiras x Corinthians, Flamengo x Fluminense e tantos outros que poderiam ser citados aqui.
No entanto, existe um outro tipo de construção de rivalidade, mais circunstancial, pautada em confrontos esportivos relevantes, como duelos em copas ou disputas acirradas pelo campeonato nacional. É justamente nesse contexto que se inserem Palmeiras e Botafogo, dois times que lutaram ponto a ponto no Campeonato Brasileiro de 2023, com direito a um inesquecível duelo realizado na reta final do campeonato, com uma das maiores viradas do século protagonizada pelo Palmeiras, em pleno campo rival, iniciando uma arrancada rumo ao título.
Para apimentar ainda mais essa rivalidade, ambos os times lideram a ponta do Brasileirão 2024, farão um duelo em plena 8as de final da Copa Libertadores e, não bastasse, retornam ao Engenhão para um reencontro, justamente na 17ª rodada do campeonato. Declarações polêmicas e muita expectativa de ambas as torcidas para o reencontro.
Sob um aspecto financeiro, essa nova realidade faz muito mais sentido do que parece. Primeiramente, é preciso contextualizar que os dois times vivem realidades econômicas e societárias ainda bem distantes. Segundo dados do Relatório Convocados 2024, o Palmeiras, uma das duas associações com melhor desempenho financeiro, possui um EBITDA Total de 839 milhões de reais e Dívida Total Líquida de 466 milhões de reais. Já o Botafogo, uma das primeiras Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) brasileiro, em relação aos mesmo indicadores, apresenta EBITDA Total de 355 milhões de reais e uma Dívida Total Líquida de 1,301 bilhão de reais, a segunda maior do futebol brasileiro.
No entanto, é justamente no grau de investimento em elenco que ambos os times começam a apimentar essa rivalidade. Desde 2022, Palmeiras e Botafogo investiram, respectivamente, 315 e 234 milhões de reais em contratações, números expressivos e que os colocam em um seleto grupo de clubes brasileiros com poderio de aquisição de jogadores de destaque.
Isso sem contar que ambos os times continuam contratando em 2024.
Pelo lado alvinegro, os investimentos se destacam pelo incremento das receitas oriundas pela Eagle Group, controladora do clube liderada por John Textor, com destaque para as contratações das jovens promessas Thiago Almada (ARG) e Luiz Henrique (BRA), que custaram aos cofres do clube, segundo dados do portal especializado Transfer Market impressionantes 35,5 milhões de euros (cerca de 210 milhões de reais), dentre as mais caras da história brasileira.
Já pelo lado palmeirense, os reforços falam menos em números de contratação, mas nos acertos em investimentos nas categorias de base (31,3 milhões de reais) e atenção às oportunidades de mercado, personificados em Estevão, a nova sensação jovem do Brasil, além de Felipe Anderson, excelente meio-campista que estava em final de contrato com a Lázio (ITA).
Levando-se em consideração os aspectos financeiros de ambos os clubes nos últimos anos, essa nova rivalidade tem demonstrado que não será pontual, passageira, podendo perdurar e se acalorar conforme encontros e reencontros em campo acabem se sucedendo.
Os resultados dos confrontos de 2024 são imprevisíveis e prometem atrair a atenção dos amantes do esporte bretão. E quem serão os verdadeiros perdedores desse novo derby? Aqueles que acreditam que o futebol brasileiro passa por um processo de “espanholização”, com apenas dois clubes sendo os protagonistas das grandes conquistas. O futebol brasileiro, mais do que nunca, promete ser a liga mais disputada do planeta!
Para os amantes do assunto, a análise das finanças de Botafogo e Palmeiras foram tema da live realizada em 10.07.2024 pelo time de especialistas do canal Sports Market Makers.
