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Milei desliga as impressoras de moeda

Abordagem temida pelos heterodoxos, o novo sistema monetário de Milei tem como objetivo de manter a quantidade de Pesos em circulação fixa.

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Texto de Raphaël Lima (@Ideias_Radicais)

Milei anunciou um novo sistema monetário para a Argentina, onde a quantidade de Pesos Argentinos em circulação no sistema financeiro ficará fixa. O objetivo é combater a inflação, que embora tenha caído fortemente desde sua posse, ainda está acima de 4% ao mês. A promessa? Exterminar a inflação de uma vez por todas no país.

Esse novo sistema é possível agora porque o déficit foi eliminado das contas públicas, e as reservas em dólares voltaram a ser positivas. Sem isso, essa alteração seria impossível. Além disso, com a aprovação da Ley de Bases, Milei tem ainda mais margem para cortes no tamanho do estado, atração de investimentos e crescimento econômico, que ajudam a sustentar o novo sistema.

Antes de Milei, o principal puxador da inflação na Argentina era o déficit público, que era bancado com impressão de moeda. Todos os últimos dez anos viram déficits de 2,4% a 8,5% do PIB. 

E a emissão de moeda para pagar o déficit era sempre a fuga dos governos anteriores. Por isso, a base monetária viu um crescimento explosivo: terminou 2023 32 vezes maior do que em 2015. Apenas nos anos de 2022 e 2023 a base monetária triplicou, e por isso o país viu uma inflação tão explosiva.

Conter o déficit foi o primeiro passo para resolver este problema, e foi com isso que Milei conseguiu baixar a inflação de 25% em dezembro de 2023 para 4,6% ao mês em junho.

Mas como mostra o gráfico anterior, a emissão continuou e a base monetária cresceu 50% desde a posse de Milei. Isso aconteceu devido ao segundo mecanismo que causava expansão: os passivos remunerados, também pagos com criação de moeda. 

Os passivos remunerados são uma ferramenta do Banco Central da Argentina para evitar que ainda mais pesos entrem na economia. Bancos podem depositar valores nessa operação e serem remunerados em uma taxa de juros que é mais atrativa do que colocar os pesos em circulação. 

Apenas em maio de 2024, a emissão de moeda para pagar os passivos remunerados respondeu por quase toda a expansão da base monetária no período.

Essa ferramenta ainda existe, com data para morrer. Em maio de 2024 o governo começou uma transição do sistema de liquidez, e em 22 de julho os passivos não serão mais remunerados. O sistema será substituído pelas LeFis, Letras Fiscais de Liquidez, permitindo ao Banco Central uma manutenção da liquidez do sistema sem a necessidade de emitir moeda para remunerar passivos.

Isso será possível porque a base de passivos remunerados tem encolhido nos últimos meses, e a maior responsabilidade fiscal, atração de dólares e fim da emissão de moeda para financiar o déficit público permitiram uma violenta queda de juros, de 126% na posse de Milei para os atuais 40%, com previsão de queda. Com a queda do principal e o juro a ser pago por ele, o Tesouro argentino pode assumir a conta e desligar a impressora. 

É possível ver essa redução de custo da remuneração de passivos na expansão líquida mensal da base monetária argentina. Ao fim do governo Fernandez e com a massiva operação de compra de votos criada para eleger Massa, o governo chegou a criar mais de 5 bilhões de pesos por mês em outubro e novembro.

A impressão de moeda para pagar o déficit do governo cessou assim que Milei tomou posse, portanto o restante da expansão se deve a emissão para remunerar passivos.

E com este gráfico é possível ver claramente como a expansão de moeda era a culpada pela inflação argentina, assim como é ensinado pela boa economia a alguns séculos. 

Encerrar esse mecanismo deixou a Argentina com uma última forma de expansão monetária: a entrada de dólares. Quando os exportadores liquidam os dólares que receberam, o Banco Central emite pesos para fazer o pagamento e fica com os dólares, o que expande a base monetária. A proposta de Milei agora é vender esses dólares por pesos em um instrumento do Banco Central, e destruir os pesos obtidos. Dessa forma a quantidade de pesos em circulação nunca é alterada.

Como a taxa de câmbio é significativamente diferente nas operações de compra e venda, devido aos controles de câmbio ainda existentes no país, o governo não precisa vender todos os dólares que obteve para receber a mesma quantidade de pesos. E como a quantidade de dólares em reserva subiu fortemente após a posse e novas reformas de Milei, o governo precisa se preocupar menos em reter dólares como um colchão de segurança.

O processo não acaba aqui. Com o fim da expansão monetária virá o fim definitivo da inflação, e com isso novas medidas podem ser adotadas. O controle de câmbio poderá ser removido, juros poderão cair ainda mais, e a retomada econômica será intensificada. É o ciclo virtuoso que Paulo Guedes buscou criar no Brasil. 

O resultado não deve ser instantâneo. Assim como foram seis meses para a inflação cair de 25% para 4% ao mês, é razoável esperar mais alguns meses para que a carestia volte a níveis civilizados. Porém tudo indica que Milei e seu partido irão para as eleições legislativas de 2025 com a inflação sob controle e uma retomada econômica bem encaminhada.

Uma pesquisa de junho mostrou que 60% dos argentinos defende que Milei deve fazer mais reformas profundas, e apenas 23,6% acredita que elas devem ser revertidas. Se este é o cenário durante os tempos difíceis das reformas, é interessante pensar como será seu resultado eleitoral quando a dor tiver passado.

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